Música que gosto.

"Sou sua noite, sou seu quarto
Se você quiser dormir
Eu me despeço
Eu em pedaços
Como um silêncio ao contrário
Enquanto espero
Escrevo uns versos
Depois rasgo

Sou seu fado, sou seu bardo
Se você quiser ouvir
O seu eunuco, o seu soprano
Um seu arauto
Eu sou o sol da sua noite em claro,
Um rádio
Eu sou pelo avesso sua pele
O seu casaco

Se você vai sair
O seu asfalto
Se você vai sair
Eu chovo
Sobre o seu cabelo pelo seu itinerário
Sou eu o seu paradeiro
Em uns versos que eu escrevo
Depois rasgo"

(Uns Versos - Adriana Calcanhotto)
Londrina, 06/09/2010, 11:37

ESCRITA

Palavras enviadas pelo amigo Kenjiro...

" A escrita nasce da impossibilidade da fala, de sua dificuldade, de seus limites, de seu fracasso.
A escrita é mais próxima do silêncio, mais próxima da solidão, mais próxima da verdade.
Escreve-se no âmago do silêncio, aonde a fala não vai."

Desconforto

Certa hora o acaso te surpreende
Com notícias surreais
Que acreditar na verdade se torna mais difícil
que inventar a mentira.

É como se o véu deslizasse
Mas a visão ainda permanecesse turva.

Como se não pronunciar as palavras
Fosse tornar tudo irreal.

Vem a zona de conforto.
Mas num momento súbito,
A sensação retorna
como te dizendo que a reação é necessária.

Duvido. E permaneço na dúvida
Com a esperança de que algum dia
esse autocontrole acabe
E só sobre espaço para o grito.

Só a Metade...

Sou inteira, mas inteira sou só a metade.
Sou forte, mas só forte porque sou a metade.
Tenho amor, tenho raiva, angústias e alegrias
Sentimentos completos
Que só existem porque sou a metade.
Problemas inteiros, soluções inteiras
Mas só porque tem a metade.
A metade da cama, a metade do dia ensolarado
A metade do filme, a metade do bolo.
Metade da luz, metade da escuridão.
Palavras pela metade, medo pela metade.
Silêncio inteiro, causado pelas metades.
Metade de tudo, apesar de tudo ser indiscutivelmente inteiro.
Fico muito bem só, mas só, estou só na metade.
(L.F.16/03/2010)

Dia de Sol...

Janela aberta,
Calçada seca,
Folhas murchas.
Mãos inchadas,
Pressão baixa,
Roupa suada.
Vento parado,
Cachorro cansado,
Água morna.
Sono leve,
Coberta dobrada,
Ventilador ligado.
Gente na praia, gente na sombra...
Bom humor, sorriso na cara, preguiça no corpo...
Fome de menos, vontade de tudo, disposição pra nada...

ONDE ESTIVER...

Pra você, que nunca conhecí,
Guardo a parte mais especial de mim.
Guardo o melhor dos dias,
A melhor das noites.
Te guardo o melhor lugar, a melhor roupa, o melhor perfume.
O olhar discreto e indeciso.
A palavra mais doce, o cheiro mais antigo.
Pra você, que nunca ví,
Guardo o último pedaço de bolo,
O chocolate que derrete,
O calor do aconchego.
Te guardo o sabor do dia chuvoso,
O aroma das folhas de outono,
A delícia da preguiça.
O sol do meio dia, a lua cheia de hoje.
Pra você, desconhecido,
Dou o melhor dos beijos,
Te concedo a última dança,
A música dos deuses e a cama dos pagãos.

(L.F. 09.01.2010)