Uno

Já não me incomodo com o sapato velho
Já não me incomodo com a blusa desbotada
Não me incomodo com meu cabelo fino,
Nem com o cachorro latindo.
Não me incomodo.
Já não me satisfaz correr sem motivo
Já não me satisfaz comer sem fome
Não me satisfaz o sobrenome
Nem o nome
Nem seu tom de voz,
Nem sua barriga intrometida
Não penso mais na morte
Não quero saber amanhã
Não vejo com lupa o insignificante
Não bebo mais hipocrisia
Não me interessa a gramática
Nem as regras do jogo
Vou mandar a diferença me consumir
E parar de correr atrás
Já não me incomodo com teus olhos
E suas palavras, não mais sentido
Quero a vida na essência
Do que nunca se deram conta.
(L.F. August/95)